Saramago volta a estar na mira das atenções de todos. Por isso, decidi deixar aqui um comentário (breve e completamente impressionista, pois não tenho a presunção de que seja outra coisa) a um dos seus livros. Foi-me oferecido há um ano por uns amigos que, como eu, partilham o gosto pela leitura. Já devia ter deixado as minhas impressões, mas o tempo foi passando, outros livros se foram impondo e o elefante Salomão ficou, pacientemente, a aguardar o seu tempo...
Dizer o que se pensa não é tão fácil como parece à primeira vista. Muito mais quando se trata de um escritor polémico e controverso como José Saramago.
A Viagem do Elefante é um texto que combina factos reais com factos inventados. Por isso, pode parecer um romance histórico. Mas para mim não é, embora realidade e ficção se entrelacem como uma unidade indissolúvel.
O livro está escrito quase em tom de fábula e talvez assim deva ser lido. Os dados históricos funcionam como um motivo para o arranque e, a partir daí, impõe-se a ficção. Ficamos perante uma reflexão sobre a humanidade, onde o humor e a ironia se unem à compaixão com que o autor observa as fraquezas humanas.
Salomão, o elefante, rapidamente se converte na imagem da inocência. É simples e humilde, é nobre e não se deixa levar pelas vaidades do mundo. Despreza o poder, nada o perturba e passa pela vida com o sossego que (supostamente) o cepticismo confere...
É deste modo - alegórico - que o autor apresenta a sua visão da condição humana.
À volta do elefante move-se uma sociedade assente na hipocrisia e no fingimento.
No entanto, a meu ver, esta viagem do elefante é, acima de tudo, uma grande lição de estoicismo...
Por isso, não sei como classificar a obra. Não sei se lhe chame conto, romance ou fábula. Não sei se lhe chame livro de viagens à maneira das crónicas renascentistas... Sei que o texto me parece uma alegoria da viagem da vida do ser humano, que decorre entre ambições, desejos, desconhecimentos...
Mas no fim, acabamos por chegar onde nos esperam...