Numa época onde palavras como tolerância ou cidadania são quase palavras de ordem, onde cada vez mais o multiculturalismo é uma realidade, questiono-me muitas vezes sobre o sentido que esses conceitos têm, na verdade, para nós. Por isso, lembrei-me de um livro que li há já bastante tempo mas que me tocou profundamente. Acredito que a sua leitura não deixará ninguém indiferente...
A escrita é magnífica, na voz de uma criança do sul dos Estados Unidos. A história é fácil de ler e a intriga cativa e prende o leitor desde o primeiro minuto. Com todas estas características está garantida a qualidade de leitura da obra.
O que o leva a ser um clássico é a moralidade que dele se extrai e a habilidade para suscitar nos leitores de hoje - como nos de ontem - simpatia.
Poderoso, o livro aborda temáticas que ainda hoje encontramos na nossa sociedade dita moderna. Esse é outro aspecto que faz dele uma obra prima. Questões delicadas como o racismo, a opressão, a injustiça ou o preconceito saltam das suas páginas . Espantosamente, a obra consegue gerir estas áreas sensíveis e profundas sem demagogias. Tal é conseguido porque Harper Lee faz de uma criança o narrador, permitindo-nos aprender com ela...
Por outro lado, a tal escrita brilhante facilita a entrada no mundo da era da Depressão no Alabama. E, curiosamente, torna-se fácil para nós simpatizar com o local (apesar de todos os preconceitos da cidade) e até com muitas das personagens.
Por Favor Não Matem a Cotovia desafia o leitor a reagir. E não lhe permite ficar indiferente. Para o melhor e para o pior... Porque esta é uma história sobre ver as pessoas como pessoas, tentando entendê-las.