Ao acabar estas 700 páginas não pude deixar de lembrar-me de Nietsche que escreveu qualquer coisa como :
A memória diz:
- Fiz isto.
Mas de seguida intervém o orgulho e afirma:
- Não pode ser que eu tenha feito algo assim.
E no final a memória cede...
Estamos perante um grande romance, quer pelo modo como está escrito, quer pela precisão de termos e estilo cuidado do autor.
A história - narrada magistralmente - gira em torno da complexidade do ser humano e do poder da memória.
O autor introduz-nos nesse mundo de uma forma brilhante, pois submergir nas profundidades da memória tem muito de demanda pessoal, de conquista de território inóspito da própria identidade...
Na realidade, na obra entrecruzam-se duas histórias: uma que nos conta Julio, na primeira pessoa; a outra, a de Jules, narrada numa voz omnisciente.
A memória de Jules - um homem atormentado na linha de Dostoievsky - funciona como uma alegoria da importância da (re)construção do passado.
E, num ápice, vemo-nos na Segunda Guerra Mundial com nazis, resistentes e traidores... Mas acima de tudo, vemo-nos envolvidos numa poderosa e bela história de amor que ( já que há um último véu) a todo o custo importa desvendar...
Diria que o romance começa e termina como os grandes livros: deixando que quem os lê conheça um pouco melhor de si próprio...