Acabo agora mesmo de ler esta fascinante história que nos coloca no Império Otomano. Não resisti ao encantamento das folhas que chamavam por mim incessantemente... Como o canto dos pássaros de água de Karatavuk e Mehmetçik...
Nesta obra, o autor intercala uma bela narrativa sobre o dia-a-dia de uma pequena cidade da Anatólia, e dos seus intrigantes habitantes, com a biografia de Mustafa Kemal Ataturk (primeiro Presidente da República Turca).
De facto, trata-se de uma soberba ficção histórica com pinceladas de Tolstoi, sobre a qual muito pode ser dito... Mas não sei se isso é tão importante... Só sei que não consegui parar de ler as quase 700 páginas do livro.
O Império Otomano é o foco político da narrativa, contada em curtos e atraentes capítulos. Aí conhecemos um vasto conjunto colorido de personagens que tornam a vida da cidade pulsante e realista. Personagens bizarras, mágicas, misteriosas, belas, loucas...
Lado a lado andam o humor e a tragédia, ao som dos passarinhos de água saídos das mãos de Iskander, o Oleiro...
E os pássaros são tema recorrente na obra. Aliás, o título confere ao livro uma dimensão interessante, se retivermos as palavras deste Oleiro - O homem é um pássaro sem asas, e um pássaro é um homem sem mágoas. Aqui reside o elemento essencial do livro: o mal que o Homem faz ao seu semelhante, das mais variadas maneiras.
Querem um conselho? Desliguem os telefones, façam um generoso bule de chá e sentem-se confortavelmente para experimentar uma boa leitura. Deixem-se levar, como eu, pelos pássaros, esses seres livres das mágoas que só a humanidade pode ter...