Lembrei-me deste livro porque é daqueles que se ama ou se odeia. Tal como a ópera. Insiro-me claramente no grupo dos que o amam. A minha paixão pela Idade Média jamais me deixaria pensar de outro modo. Mas não foi por isso que o escolhi, confesso. A atravessar um momento menos bom na vida ( mais um) lembrei-me da esperança que encontrei nestas páginas. Como preciso de me agarrar a ela desesperadamente, decidi deixar aqui algumas pinceladas da minha leitura.
Rosa Montero consegue não só contar uma história de aventuras, que nos faz submergir na Idade Média, como consegue falar de ideais e transmitir uma mensagem sobre o poder das palavras para criar ou destruir.
Ao descrever com minúcia cada aspecto, por mais simples que seja, dá-nos uma sensação de "quotidianeidade" (se é que a palavra existe) que se confirma na (inicialmente) pouco atraente ideia de contar a história apenas na primeira pessoa e no presente. Porém, rapidamente descobrimos que isso contribui para que nos identifiquemos com a personagem principal, fazendo-nos sentir parte daqueles espaços, daqueles sentimentos, daquele tempos...
É-nos revelado um mundo onde se mistura, curiosamente, realismo e superstição. E brincando com muitos duplos sentidos, confude-se - com inteligência - o real e o imaginário.
É possível alcançar a liberdade sendo escravo? É possível mudar o próprio destino?
Estas são algumas das perguntas que fazem parte integrante da mensagem da história. Uma história de superação pessoal, de valentia incondicional, de vivências inesquecíveis, de batalhas sangrentas, de desejadas recompensas...Mas, sobretudo, de esperança. Esperança perante as dificuldades, brilhando como uma luz na mais profunda escuridão do medo e da derrota.
A História do Rei Transparente é, acima de tudo, uma insólita viagem a uma Idade Média desconhecida. Uma história que nos comove pela sua grandeza épica. Um encontro deslumbrante com personagens inesquecíveis. Uma fábula para adultos...
É, ao fim e ao cabo, um desses livros que não se lêem, mas que se vivem!