Gosto de romances históricos. Se forem bem escritos, claro.
Ao passear pela minha biblioteca reencontrei este "velho amigo". Li-o num Inverno frio, mas aconselho-o numa sombra agradável de um Verão quente... depois de se ter visitado um Mercado Medieval (ou, quem sabe, como inspiração para tal).
A vida de um romencista não deve ser fácil! Muito menos quando se encontra perante as mil dificuldades inerentes a um romance histórico. Reconstituir o ambiente do passado, com toda a correcção, não é tarefa simples. Para além de ser um tempo que vem de longe, é - em certa medida - um tempo "estrangeiro" que chega com as suas particularidades...
Valeria Montaldi parece ter superado todos estes obstáculos e escreveu uma obra onde a acção prevalece sobre tudo, os factos se sucedem e o medievo invade...
A obscuridade, e não só pelo efeito do tempo, ofusca o brilho da realidade. E o realismo impera: nomes, lugares, usos e costumes convergem para a autenticidade do tempo. Esse tempo que vem de longe... Castelos, caminho sinuosos e bosques impensáveis criam a magia autêntica de um tempo que já foi, mas que continua a ser... Este realismo confirma-se na linguagem que, em alguns momentos, é crua e fere. Mas, do meu ponto de vista, está claramente ao serviço do eterno tema da miséria da humanidade que, na Idade Média, como hoje, constituía a realidade quotidiana.
As personagens, ricas e múltiplas, exemplificam as várias camadas sociais existentes, movendo-se em torno do fio condutor da história - a lenda da aldeia perdida de Felik...
Um romance muito interessante e agradável que conjuga, de maneira extraordinária, a lenda e a História numa leitura difícil de interromper.
Uma sombra aprazível...um chá gelado...e o desafio para que cada um de nós parta em busca desta aldeia perdida.