Mais uma vez, alguém muito especial escolheu para mim este livro. Como sempre que me presenteia com um, fico na expectativa, pois sei que a escolha é feita com carinho, com cuidado e com intenção... A prova está aqui. Uma das minhas paixões é a ópera e, outra, o conhecimento do código de honra dos samurais. Para mim este livro faz todo o sentido. Vindo de quem veio, só poderia fazer...
Reza a lenda que a vida amorosa do escocês Thomas Blake Glover inspirou a célebre ópera de Puccini Madame Butterffly, sobre os trágicos amores entre o tenente americano Pinkerton e a gueisha Cio Cio San.
Diz a realidade que esta ópera reflecte o fascínio e o horror que exerceram o encontro e desencontro do Japão com o mundo ocidental no período da restauração Meiji.
Com agilidade cinematográfica, este livro reconstrói a vida de Tom Glover. Ao longo das suas páginas, lenda e realidade entrelaçam-se, deixando-nos sem perceber onde começa uma e termina a outra… Ao longo das suas páginas, a estrutura dramática e o ritmo de guião cinematográfico fazem da narração uma mistura de planos gerais, planos americanos, sequências lentas e zooms, à boa maneira do actual cinema épico.
No entanto, este ritmo cinematográfico, com as suas mudanças de velocidade, dá profundidade dramática aos factos e personagens da história. O autor aproveita de forma exemplar o compasso dos tempos teatrais para desenvolver um discurso estilisticamente raro.
O romance é um “fresco”, não um épico (do meu ponto de vista). Mostra como um só homem contribuiu para transformar o Japão medieval numa sociedade industrializada, alcançando uma elevada posição na fechada hierarquia japonesa. Mostra, ainda, o modo como a rejeição e a inimizade entre os clãs samurais dificultaram a história de amor que viveu com uma japonesa…
A Terra Pura é um cuidado romance histórico, que prende o leitor desde a primeira página e que perdura na memória… Vivemos aventuras e coragem, amor e compromisso… E, sobretudo, não esquecemos que no amor e na guerra se forja a alma de um samurai…