Só conhecia esta autora de nome e ligada à ficção científica. Como não sou grande amante do género, nunca tinha lido nada dela. Um destes dias, choquei com Lavínia. Lembrei-me, de imediato, de Eneias e Dido e... não foi preciso mais nada para o livro vir coladinho a mim. Em boa hora este feliz encontro se deu. Cá ficam umas impressões. Brevíssimas. Porque não há palavras para a poesia da prosa de Ursula Le Guin...
Esta é uma história que se faz grande nos detalhes e na descrição do Lácio que, de repente, fica perto de nós e torna-se verídico. Tão verídico...
Lavínia é uma personagem vinda directamente da Eneida de Virgílio e a quem a autora dotou de voz e personalidade que lhe tinham sido recusadas pelo poeta. Ela é pretexto para sermos conduzidos ao mundo semi selvagem da antiga Itália, quando Roma não era mais do que uma aldeia entre sete colinas.
Paradoxalmente, Lavínia está consciente da sua realidade, enquanto personagem de ficção, e da sua imortalidade literária. Deste modo, a autora brinca com os limites da própria ficção, diluindo subtilmente a linha entre realidade e fantasia, entre factos históricos e mitológicos, entre criação literária e homenagem poética.
Com uma prosa onde o lirismo e o sentimento se apoderam frequentemente da narração, este é um livro que faz com que nos percamos entre a magia que se desprende das suas linhas.
Lavínia pode ser literatura fantástica. Mas soa a real. Tão real...