Domingo, 28 de Março de 2010

 Foi sem querer que este livro me caiu nas mãos. Esbarrei (literalmente) na bancada onde se encontrava e dei por mim a folheá-lo sem parar. Veio para casa comigo e em boa hora. Há estranhas linhas de leitura a povoar a vida dos leitores...

 

Acerca de Roderer

Numa tensa partida de xadrez, um adolescente é derrotado por um outro da sua idade. Roderer, o vencedor, vai-se revelando aos poucos, como um génio obscuro, imerso numa demanda extraordinária. Um génio misterioso que se oculta por detrás de um véu que possivelmente é o da sua inteligência genial e de uma procura que parece ser o único sentido da sua vida: a do absoluto. Roderer vive num mundo só seu.

Um romance de suspense e ambiguidades incomparáveis, onde os círculos mágicos da intriga desmascaram um universo no qual a inteligência se opõe constantemente ao génio, tal como a vida ao mundo intelectual.
Um grande romance que cabe em apenas cem páginas… e que parece um truque matemático do autor…
Não é fácil falar do livro… Digamos que a intriga do romance nos submerge no livro de tal maneira que não é fácil sair das suas páginas. Digamos que é uma grata surpresa ler um autor que sabe manejar as palavras, os factos, as personagens.
Não é fácil entender este mundo de Roderer… Mas percebe-se que o autor reelabora um dos temas tradicionais da literatura universal: o mistério da iniquidade…
As marcas textuais que criam o clima misterioso na narração vão, com progressiva evidência, intensificando as notas de estranheza que circundam Roderer…
O esquecimento é mais misterioso do que a memória. Enquanto li o livro lembrei Herman Hesse, Salinger, Henry James, entre outros…
Uma partida de xadrez, uma amizade, uma admiração, uma obsessão… Este não é um livro que se possa ler ao mesmo tempo que se espiam outros. Requer que o leitor esteja presente de corpo e alma.



publicado por I.M. às 12:47
Domingo, 28 de Março de 2010

Há algum tempo que não passava por aqui. Às vezes acontece...Mas estou de volta, para deixar mais algumas impressões do que fui lendo. Li Ken Follet na sua vertente histórica. Gostei muito. Mesmo muito. Agora não deixei escapar a hipótese de me embrenhar no meio de espiões que vêm do deserto...


Espiões, sedução, suspense… Tudo num romance que nos leva às ardentes areias do Norte de África, durante a Segunda Guerra Mundial. Um thriller (cinematográfico) que nos transporta aos meandros da espionagem e da contra-inteligência. Uma história inteligente, cuja localização espacial cativa o leitor do início ao fim. É, no entanto, uma história sobre a clássica luta do Bem e do Mal. As personagens, como sempre, parecem muito humanas e cheias de fortes motivações… E, por isso, tipicamente, vemo-nos do lado dos “bons”…

Mas este é um romance de lutas quase pessoais no marco do conflito bélico. Esta combinação resulta numa obra atraente e quase real... Não é o meu estilo preferido, mas confesso que, depois de ter lido os romances históricos do autor, não resisti a este seu lado de espionagem. Uma leitura simples, mas muito agradável. Uma história cheia de acção, de intrigas e de espionagem (claro!). Confirma-se aquilo que eu já pensava do autor: em cada uma das suas obras consegue que o leitor fique preso desde a primeira linha até ao final.



publicado por I.M. às 12:06
Segunda-feira, 15 de Março de 2010

 

Também este foi um livro que me encontrou por acaso. Sem nada para ler, e porque acredito que os prémios ainda são atribuídos com base no critério da qualidade, caiu-me nas mãos este prémio “Primavera de Novela 2008”, sob a forma de um “nó”. Não resisti e tentei desfazê-lo. Não se trata de uma grande obra literária, mas de um romance que se vai descobrindo com agrado, como uma viagem de barco: com momentos de calmaria e momentos de tempestade tortuosa.
 
 
Esta foi uma leitura que me transportou à minha meninice quando, nos dias de Verão, lia sem parar. Era uma aventura dentro de outra… Só por isso, valeu a pena lê-lo!
Este livro é, também ele, um pouco como a minha leitura desses dias de Verão: aventura atrás de aventura. Estrutura-se em capítulos curtos que acabam, quase invariavelmente, com o protagonista metido em apuros. Tal como nos livros que eu lia. E faço-me, ainda hoje, a mesma pergunta: “o herói vai conseguir?” Aperto as mãos – para não deixar fugir a história – e acredito com todas as forças que sim.
Comecei por dizer que é um livro de aventuras. Mas é mais do que isso. É um romance histórico que consegue aquela proeza própria dos bons romances históricos – ensinar, deleitando. Juntem um aventureiro, algum mistério, um segredo bem guardado, a linguagem dos “nós” e uma princesa Inca. Fica o cenário pronto para que a aventura comece. E a lição também… E o romance é uma amena lição de História sobre o Império Inca e, sobretudo, sobre a sua escrita. Como estamos habituados a associar a escrita ao papel e aos livros, parece estranho a escrita em “nós” de cordas. Aí começa o fascínio… Mas é assim que está tecida a trama: como um manual de “quipus” (os nós incas que se converteram em sinal de identidade e num modo de linguagem).
Trata-se de um livro fácil de ler, misturando história e fantasia numa linguagem simples, directa e sem pretensões.


publicado por I.M. às 17:02
Domingo, 14 de Março de 2010

Confesso que este não era um livro que atrairia a minha atenção. Uma amiga emprestou-mo e disse que tivera uma agradável surpresa quando o lera. Experimentei e gostei. Cá fica uma breve opinião. Aprendi que nem sempre títulos, capas e sinopses (por mais estranho que pareça) resolvem o problema na hora de escolher um livro...

 

É preciso ter alguma coragem para colocar o romance na Grécia, povoá-lo com um conjunto de personagens excêntricas e seguir a vida amorosa - atribulada - das mulheres... Mas a autora consegue. E digo coragem porque o tema não é novo (estou a lembrar-me de O Bandolim do Capitão Corelli); também não é a primeira vez que uma personagem oculta o seu passado e um descendente parte em busca dele... Ou seja, a fórmula repetitiva dos temas abordados peca pela falta de originalidade. Porém esta falta de originalidade depressa se esquece e antes de nos darmos conta estamos envolvidos na vida de Plaka e Spinalonga, e na vida de uma família marcada pela adversidade e pela  tragédia... Em suma, esta falta de originalidade esquece-se essencialmente porque Spinalonga é uma ilha de Creta muito diferente de todas as outras: para aí eram banidos os leprosos para morrerem.

O livro pinta, então, um retrato bastante intimista da vida dos leprosos naquela ilha. E aí é que a obra surpreende. Ao contrário do que se podia esperar, a vida pulsa num lugar de morte e tudo recomeça para cada um dos banidos... Talvez por isso, do meu ponto de vista, os melhores capítulos são os que dizem respeito a Spinalonga.

Com uma prosa ágil, descrições convincentes, um punhado de personagens bem desenhadas e uma história por vezes comovente, Victoria Hislop toca o lado sensível do leitor para lhe recordar que o amor é a força mais impressionante da natureza...

 



publicado por I.M. às 12:54
Domingo, 07 de Março de 2010

Mais uma amiga, mais um livro. Andava há algum tempo para "preencher" estes "Espaços em Branco", mas havia sempre algo que me impedia. Um destes dias, uma amiga emprestou-mo e li-o num instante. Não que seja fácil (como eu pensava). Mas é "absorvente". Para além de ser bom, deixou-me a pensar. Gosto de livros assim, onde, mais uma vez, a densidade psicológica da personagem me (con)vence... De tal modo que não sei bem o que dizer e tenho lutado para deixar estas linhas.

 

 

 

O romance tem, aparentemente, uma história simples e linear: um homem, de 65 anos, está a perder a memória por ser portador da doença de Alzheimer. Mas bem vistas as coisas, o livro é muito mais do que isto e vai muito mais além. Fica próximo, pelo menos para mim, dos romances meditativos da Virginia Woolf...

Tudo começa no ar, a bordo de um avião, de onde vemos - pelos olhos da personagem - desfilar a sua vida em retalhos representados, por exemplo, naquilo que construiu. E é nestes momentos que nos surgem as ondas Woolfianas de reconhecimento parcial...

E começamos a conhecer Jake. Ao mesmo tempo que o fazemos, a sua vida entrelaça-se com uma cultura que se vai impondo - a cultura judaica. Talvez por isso, do meu ponto de vista, o livro acabe por ser menos sobre o apagar da vida de um homem e mais sobre a vulnerabilidade de uma cultura...

De facto, a obra apresenta uma narrativa corajosa, inteligente e difícil de ler, pois progressivamente o leitor  fica mais confuso quanto ao estado das percepções de Jake. Numa linguagem que troca as descrições líricas pela certeza narrativa, o poético nunca se perde. E entre verdades e dúvidas sobre a verdade, a inteligência da narração reside, também, nesta incapacidade com que o leitor se confronta de saber o que é realmente  verdade... Através de uma repetição de motivos (um vestido amarelo, uma cerejeira, umas cartas de amor...) entramos no mundo da deterioração da memória de Jake. Lembrei-me de George Eliot que dizia, a propósito dos limites necessários da empatia, qualquer coisa como : "se pudessemos entrar no sofrimento seria como ouvir a relva a crescer ou o bater do coração de um esquilo e morreríamos com aquele rugido que é o do outro lado do silêncio". Eu diria que, algures  na margem, fica o mundo de Alzheimer. O mundo de palavras sem palavras, com a alma por resgatar...



publicado por I.M. às 11:29
Em torno de livros e escritos. À volta de histórias e estórias...
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