Foi sem querer que este livro me caiu nas mãos. Esbarrei (literalmente) na bancada onde se encontrava e dei por mim a folheá-lo sem parar. Veio para casa comigo e em boa hora. Há estranhas linhas de leitura a povoar a vida dos leitores...
Numa tensa partida de xadrez, um adolescente é derrotado por um outro da sua idade. Roderer, o vencedor, vai-se revelando aos poucos, como um génio obscuro, imerso numa demanda extraordinária. Um génio misterioso que se oculta por detrás de um véu que possivelmente é o da sua inteligência genial e de uma procura que parece ser o único sentido da sua vida: a do absoluto. Roderer vive num mundo só seu.
Um romance de suspense e ambiguidades incomparáveis, onde os círculos mágicos da intriga desmascaram um universo no qual a inteligência se opõe constantemente ao génio, tal como a vida ao mundo intelectual.
Um grande romance que cabe em apenas cem páginas… e que parece um truque matemático do autor…
Não é fácil falar do livro… Digamos que a intriga do romance nos submerge no livro de tal maneira que não é fácil sair das suas páginas. Digamos que é uma grata surpresa ler um autor que sabe manejar as palavras, os factos, as personagens.
Não é fácil entender este mundo de Roderer… Mas percebe-se que o autor reelabora um dos temas tradicionais da literatura universal: o mistério da iniquidade…
As marcas textuais que criam o clima misterioso na narração vão, com progressiva evidência, intensificando as notas de estranheza que circundam Roderer…
O esquecimento é mais misterioso do que a memória. Enquanto li o livro lembrei Herman Hesse, Salinger, Henry James, entre outros…
Uma partida de xadrez, uma amizade, uma admiração, uma obsessão… Este não é um livro que se possa ler ao mesmo tempo que se espiam outros. Requer que o leitor esteja presente de corpo e alma.