Já li há algum tempo este livro. Cativou-me. mas acima de tudo, surpreendeu-me. Gosto disso num livro. Além do mais deixou-me a pensar... A Feira do Livro ainda aí está e esta pode ser uma boa aposta para uma compra. Fica a sugestão.
Neste romance de “histórias”, a autora criou uma personagem sui generis, Olive Kitteridge, que emerge caleidoscopicamente através dos olhares daqueles que a circundam. São treze histórias ligadas entre si pela presença desta mulher que não nos deixa indiferentes… Uma mulher difícil, cuja vida é um desapontamento (muito dele auto-infligido). No entanto, toca o coração dos outros, trazendo consolo àqueles que desesperam com as suas vidas.
Olive é uma mulher ricamente desenhada, multidimensional, capaz de se surpreender a si própria e ao leitor. Curiosamente, não é sempre personagem central, mas sem ela a narrativa não teria força...
O livro é uma espécie de prisma, com a luz a reflectir diferentes vidas ligadas por laços comuns. E, apesar de individual, cada história pode ser lida como um capítulo. No seu todo, a" macro- história" cativa pelas personagens tão humanas e os locais tão vívidos.
Olive Kitteridge é uma obra sobre pessoas corajosas que lutam contra dificuldades e inconsistências. À lupa, olha-se para um lugar, para os seus habitantes e, ainda, para os seus desejos e emoções.
A narrativa está construída com imensa ironia, momentos de surpresa genuína e intensa emoção. Trata, também, de um retrato de uma cidade e dos seus habitantes. Por isso, muitas vezes, damos connosco a fechar a página e a olhar em frente para conseguirmos absorver o poder daquilo que acabámos de ler.
A perda é o tema dominante neste romance. Sobretudo a perda da juventude … Talvez, por isso, às vezes, seja penoso de ler... por causa da sua insistência nas realidades cortantes da vida. Mas é precisamente isso que o faz tão poderoso e tão gratificante.
No início da história, uma mulher e o marido conduzem através de uma cidade, admirando as casas e as decorações de Natal de cada uma. Ela diz qualquer coisa como: “Todas estas vidas. Todas as histórias que nunca saberemos”…
Parece-me que essa foi a missão da autora: escavou algumas dessas histórias das casas que vemos da estrada e contou-no-las numa linguagem que compreendemos com o coração.