A minha amiga M.T. disse-me que estava a ler este livro. Lembrei-me que eu já o tinha lido há bastante tempo, mas que nunca aqui disse nada sobre ele. Pois cá deixo uma breve impressão sobre uma pintura em palavras que muitas vezes me transportou ao estúdio onde uma rapariga (in)comum ia fazendo o seu ritual de passagem à idade adulta (talvez sem se dar conta)...
Sempre que vejo o quadro do Vermeer ponho-me a pensar: “Quem foi essa rapariga que parece sorrir-me, envolta num complicado toucado azul, com uma pérola como único adorno?” Encontro sempre a mesma resposta: “É um mistério”. Um mistério que Tracy Chevalier tomou como ponto de partida para este belo romance.
A Rapariga do Brinco de Pérola é a história de um fascínio ou de como surge um sentimento que se move entre a admiração e o amor. A luz nos olhos de Griet, a empregada convertida em musa, encerra o mistério mais profundo no processo de criação de uma obra de arte. Com a mestria que lhe é habitual, e num retrato vívido, a autora evoca a vida quotidiana do colorido século XVII holandês, neste romance sobre o despertar para a vida e para a arte. A sua narração é tão realista que nos leva a acreditar que as coisas se passaram mesmo assim. No meu caso, dei por mim a cheirar os aromas da roupa a lavar, da carne no mercado e das tintas... É, deveras, uma narração fresca, com uma prosa elegante que evoca contemplação, um ritmo lento e cumulativo, um drama emocional...
Trata-se de um livro escrito com o mesmo extremo cuidado que Griet demonstra quando limpa o estúdio do mestre seu amo.
Uma boa leitura a fazer em tempo de férias!