Deixei os livros entrar nos meus sonhos e por vezes sonhei que eu é que estava nos livros.
Qualquer verdadeiro amante de livros, muitas vezes, já desejou desaparecer num deles. Eu já! Porque assim, a fragilidade torna-se força, a mudez ocasiona discursos para massas... E por aí fora. Firmin encontra alívio para o seu status exterior tornando-se personagem. Ou melhor, várias personagens.
Trata-se de uma fábula adulta, tocante e divertida, sobre o poder da literatura e da influência dos grandes escritores. Os livros não são apenas poderosos. São mágicos... Tão mágicos que até um rato pode tornar-se num sensível e romântico sonhador "humano"...
Na verdade, Firmin, por força das letras, chega a ser mais humano do que todas as outras personagens que desfilam sob o nosso olhar.
O livro pode ser lido, então, como uma história sobre o rato amante de livros que existe em (quase) todos nós, ou, como um olhar filosófico sobre a vida.
O autor coloca o leitor perante dois aspectos elementares do humanismo: a natureza terrena do corpo e o reino espiritual da mente. Atribuindo esta dicotomia a um rato conscencioso, brinca com as nossas percepções e as nossas desilusões. Olhando Firmin - como um reflexo de espelho - questionamo-nos sobre nós próprios e sobre a nossa compreensão da realidade.
Porém, acima de tudo, a obra constitui uma forte homenagem a uma vida vivida através e à volta dos livros.
Firmin é um retrato e uma busca da condição humana, que se move entre o estilo simples - mas profundo - sem nunca perder o ritmo.
Tal como me apaixonei por Despereaux, apaixonei-me por Firmin - de modo puro, simples e definitivo.