Descobri Ian McEwan através do Fardo do Amor. Fiquei rendida ao seu estilo. De tal modo, que li tudo o que é do autor. Hoje pediram-me que falasse deste livro em particular ; por isso, aqui fica o que penso.
Não é preciso ler mais do que dois parágrafos de Expiação para perceber que estamos diante de uma grande obra. Uma obra que faz lembrar, no seu tom e no seu estilo, os grandes clássicos ingleses.
A densidade da prosa de Ian McEwan é capaz de encerrar todo o dramatismo da narração em alguns esboços das personagens e criar uma atmosfera sufocante, como só pode haver numa casa de campo inglesa do género das de Jane Austen.
A história cresce de intensidade à medida que se devoram as páginas, prendendo o leitor numa atmosfera que se suspeita trágica mas cujo desenvolvimento e desenlace surpreeendem...
Nesta bem conseguida intriga, nenhuma das personagens -e são muitas - está a mais. Todas se nos tornam familiares, enquanto cumprem a sua missão na fantástica engrenagem que se vai construindo com peças soltas e que não parecem ter nenhuma relação entre si.
A estrutura da obra, por seu lado, é incomum. O texto está escrito a partir de múltiplos pontos de vista, em três partes distintas, que levam o leitor de Inglaterra a França durante a Segunda Guerra Mundial. Mas esta estrutura mostra-se uma peça fundamental num romance que, tematicamente, explora a interpretação da verdade.
Visto por muitos como uma história de amor, parece-me muito mais um livro sobre a criação de uma história e as ténues fronteiras entre ficção e não ficção, memória e facto.
Se há coisa agradável, para mim, é encontrar um final que não atraiçoe o desenvolvimento inteligente que nos acompanhou em páginas cheias de paixão. E aqui encontrei-o.
Dei então comigo a pensar sobre as áreas cinzentas inerentes à vida...